segunda-feira, 9 de abril de 2012

Antes de mais nada, sejamos bons filhos


A voz do bom senso, vinda de La cigüeña de la torre

A maioria dos atos de um Papa não são magisteriais. Aonde vai, quem recebe ou cumprimenta, quem nomeia, o que ele come ou bebe, que mitra usa, quantos cardeais nomeia, de que nacionalidade...

Ele pode acertar ou não. E até cabe discordar de qualquer desses atos. Parece que Bento XVI, como bom alemão, gosta de beber uma cerveja de vez em quando. É evidente que os católicos não ficam obrigados a serem amantes da cerveja. Isso, que é trivial, vale também para outros atos mais transcendentes.

Sua viagem a Cuba não agradou a todos os grupos no exílio. Que pensavam que o regime ditatorial de Castro sairia fortalecido. Outros queriam que ele recebesse os dissidentes da ilha ou as vítimas de Marcial Maciel no México. Havia quem exigisse uma condenação pública da ditadura cubana na viagem. E os exemplos podem ser multiplicados. Martini deve ser advertido? Bertone mantido como Secretário de Estado? Lombardi como porta-voz? Viganó como núncio? Nourrichard como Bispo de Evreux? Nicolás como Prepósito Geral da Companhia de Jesus?

Seria uma lista interminável. Todos, inclusive eu, governaríamos a Igreja muito melhor do que o Papa. E não só melhor do que este Papa mas do que todos os papas.

Mas isso não seria a Igreja e sim um balaio de gatos. O Papa pode se equivocar em muitas coisas. Ou em algumas. Mas nele reside o ministério petrino e não em qualquer católico. Seja da tendência que for. Cabe também pensar que toma decisões com mais conhecimento de causa do que imaginamos. Não porque seja mais inteligente do que qualquer um de nós, mas porque tem muitas mais fontes de informação. E busca o bem da Igreja universal por cima da nossa tacanha visão paroquial.

É óbvio que o Papa quer liberdade para os cubanos e para a Igreja em Cuba. E pensou, o que considero acertado, ainda que alguns exilados pensem de forma diferente, que sua viagem favorecia essa liberdade. E o fez como pôde e como deixaram que fizesse. Não recebeu os dissidentes, mas repetidamente pediu uma maior liberdade e até mencionou os prisioneiros. Não condenou o castrismo mas se disse várias vezes a favor da abertura, da reconciliação e de um amanhã mais livre. Que alguns desejariam uma maior contundência? Muito provavelmente teria significado um amanhã pior para os cubanos da ilha e para a Igreja.

E isto, tão local e tão concreto, vale para tudo. Não significa que você não pode pensar, e expressar, que uma nomeação episcopal foi uma desgraça, que um cardeal já deveria ter sido aposentado ou que seria necessária uma maior firmeza com a Igreja austríaca. Com respeito, considerando também que o Papa talvez pense o mesmo e esteja aguardando o momento certo, considerando todos os prós e contras, e, acima de tudo, do ponto de vista do amor.

Os católicos têm que amar o vigário de Cristo. Embora às vezes achemos que ele se equivocou ou fizeram com que se equivocasse. Vendo as multidões que no México e em Cuba expressavam seu afeto e seu entusiasmo, me pareciam muito mais Igreja do que aquele que constantemente cita a reunião de Assis para convencer-nos de como é ruim esse Papa. E isso dito por quem acredita que o primeiro Assis foi uma infelicidade. Quanto ao segundo não tenho nada a objetar.

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