terça-feira, 17 de abril de 2012

Apertem os cintos, o Padre surtou


O sermão até que começou bem: 2º Domingo da Páscoa, São Tomé, fé, incredulidade... De repente, parecia que uma jamanta tinha perdido o freio morro abaixo.

Não arrisco explicação, mas era como se alguém tivesse errado a dose do remédio. Ou talvez estivesse obcecado com uma ideia, necessitado de um desabafo e, de repente, a pressão rompeu as comportas.

O tom era o de sempre, mas o conteúdo... Como não dá para resumir 15 minutos em um breve post, cito algumas passagens.

Primeiro, sentenciou que o Matrimônio é como pegar um ônibus. Se você pegou o ônibus errado, não tem sentido insistir, desce logo, cai fora. Seria ridículo se sacrificar em nome de um compromisso se não há amor.

Meio na mesma linha, se é que se pode chamar de linha, passou a atacar as mulheres submissas que se sujeitam a humilhações e surras do marido! Claro que existem essas situações limite, mas nessas épocas de Maria da Penha, eu olhava para os pacatos casais de classe média ao meu redor e era difícil imaginar pra quem serviriam aqueles conselhos.

Culminou com o caso de uma mulher, cujo marido chegou tarde e bêbado, bateu na dita-cuja e foi dormir. Pois o que fez a sábia mulher, essa Judite do século XXI? Tirou a roupa do marido inconsciente e amarrou-o na cama. Quando este acordou pela manhã, ela soltou o verbo: se você me bater outra vez, eu volto a lhe amarrar, pego uma faca e o capo, seu miserável. Moral da história: o marido nunca mais a agrediu.

Acho que nunca ouvi um exemplo (!?!) tão bizarro em toda a minha vida. E não estou me restringindo apenas a sermões, o insólito vale também para aulas, livros, palestras, conversas com amigos.

Singelos e líricos ensinamentos de um sermão dominical para as famílias ali reunidas. Especialmente para as crianças pequenas que devem estar até agora se perguntando se o seu pai sempre foi uma pessoa direita ou se só tomou jeito depois que a mãe o ameaçou com uma faca Ginsu.

Não sou advogado, mas acho que se estivesse presente um membro mais rigoroso do Ministério Público, a coisa poderia complicar para o pregador. Não digo pelas questão de moral, ou pelos aspectos pastorais, mas pelo lado criminal. Com o "exemplo" da mulher valente dava para enquadrá-lo numa meia dúzia de artigos do código penal: incitação aos crimes de cárcere privado, tentativa de homicídio, abuso de incapaz, ameaça de lesão corporal grave, etc.

Na saída da Missa comentei minhas impressões com um conhecido que é membro ativo na paróquia. Ele não entendeu bem minhas objeções, disse que achou o sermão muito espiritualizado, que o padre tem bastante experiência, que deve saber o motivo de tais abordagens. Assim caminha a humanidade...

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